Artigo original: https://www.freecodecamp.org/news/brief-history-of-the-internet/

Vamos começar esclarecendo alguns equívocos sobre a Internet: a Internet não é a Web, a Internet não é uma nuvem e a internet não é mágica.

Ela pode parecer algo automático e que damos como certo, mas há todo um processo que acontece nos bastidores que faz a Internet funcionar.

Então... o que é a Internet?

A Internet é, na verdade, um fio – bem, muitos fios – conectando computadores em todo o mundo.

A Internet também é infraestrutura. É uma rede global de computadores interconectados, que se comunicam de maneira padronizada com protocolos definidos.

Realmente, é uma rede de redes. É um sistema totalmente distribuído de dispositivos de computação e garante conectividade de ponta a ponta através de todas as partes da rede. O objetivo é que cada dispositivo seja capaz de se comunicar com qualquer outro dispositivo.

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Visualização de um possível caminho de roteamento da Internet. Fonte: Wikimedia Foundation.

A Internet é algo que todos nós usamos todos os dias. Muitos de nós não podemos imaginar nossas vidas sem ela. A Internet e todos os avanços tecnológicos que ela oferece mudaram nossa sociedade. Ela mudou o nosso trabalho, o modo como consumimos notícias, partilhamos informações e nos comunicamos uns com os outros.

Ela também criou muitas oportunidades e ajudou a humanidade a progredir e moldou nossa experiência humana.

Não há nada parecido – é uma das maiores invenções de todos os tempos. Será, no entanto, que já paramos para pensar por que ela foi criada em primeiro lugar, como tudo aconteceu ou por quem ela foi criada? Como a Internet se tornou o que é hoje?

Este artigo é mais uma viagem no tempo. Vamos aprender sobre as origens da Internet e da distância que ela atingiu ao longo dos anos, pois isso pode ser benéfico em nossas jornadas em programação.

Aprender sobre a história de como a Internet foi criada me fez perceber que tudo se resume à resolução de problemas. É disso que se trata a programação. Ter um problema, tentar encontrar uma solução para ele e resolvê-lo quando essa solução for encontrada.

A Internet, uma tecnologia tão expansiva e em constante mudança, não era obra de apenas uma pessoa ou instituição. Muitas pessoas contribuíram para o seu crescimento pelo desenvolvimento de novas funcionalidades.

Por isso, ela desenvolveu-se ao longo do tempo. Foram, pelo menos, 40 anos de produção e manteve-se (bem, ainda se mantém) em evolução.

Ela não foi criada apenas pelo prazer de se criar algo. A Internet que conhecemos e usamos hoje foi resultado de um experimento, a ARPANET, a rede precursora da internet.

Tudo começou por causa de um problema.

O medo do Sputnik

Foi em plena Guerra Fria, em 4 de outubro de 1957, que os soviéticos lançaram ao espaço o primeiro satélite feito pelo homem, chamado Sputnik.

Como foi o primeiro objeto artificial do mundo a flutuar no espaço, isso foi alarmante para os americanos.

Os soviéticos não só estavam à frente em ciência e tecnologia, mas eram uma ameaça. Os americanos temiam que os soviéticos espionassem seus inimigos, vencessem a Guerra Fria e que ataques nucleares em solo americano fossem possíveis.

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Fonte: Wikimedia Foundation

Assim, os americanos começaram a pensar mais seriamente sobre ciência e tecnologia. Após o surgimento do Sputnik, começou a corrida espacial. Não demorou muito para que, em 1958, a US Administration passasse a financiar várias agências, sendo uma delas a ARPA.

ARPA significa Agência de Projetos de Pesquisa Avançada. Era um projeto de pesquisa em Ciência da Computação do Departamento de Defesa, uma maneira de cientistas e pesquisadores compartilharem informações, descobertas, conhecimento e se comunicarem. Também permitiu e ajudou o campo da Ciência da Computação a se desenvolver e evoluir.

Foi lá que a visão de J.C.R. Licklider, um dos diretores da ARPA, começaria a se formar nos próximos anos.

Sem a ARPA, a Internet não existiria. Foi por causa dessa instituição que foi criada a primeira versão da Internet – a ARPANET.

Criando uma rede global de computadores

Embora Licklider tenha deixado a ARPA alguns anos antes da ARPANET ser criada, suas ideias e sua visão lançaram as bases e os blocos de construção para criar a Internet. Elas foram o motivo de ter se tornado o que conhecemos hoje.

Os computadores na época não eram como os conhecemos agora. Eles eram enormes e extremamente caros. Eram vistos como máquinas de processamento de números e principalmente como calculadoras, e só podiam executar um número limitado de tarefas.

Assim, na era dos computadores mainframe, cada um só podia executar uma tarefa específica. Para que um experimento que exigisse várias tarefas ocorresse, seria necessário mais de um computador. Isso, porém, significava comprar hardware mais caro.

A solução para isso?

Conectar vários computadores à mesma rede e fazer com que esses diferentes sistemas falassem a mesma língua para se comunicarem uns com os outros.

A ideia de vários computadores conectados a uma rede não era nova. Essa infraestrutura existia na década de 1950 e era chamada de WANs (Wide Area Networks – em português, redes de área ampla).

No entanto, as WANs tinham muitas limitações tecnológicas e eram restritas a pequenas áreas e àquilo que podiam fazer. Cada máquina falava sua própria língua, o que a impossibilitava a comunicação com outras máquinas.

Então, essa ideia de uma "rede global" que Licklider propôs e depois popularizou no início dos anos 1960 foi revolucionária. Estava ligado à visão maior que ele tinha, a da simbiose perfeita entre computadores e humanos.

Ele estava certo de que, no futuro, os computadores melhorariam a qualidade de vida e se livrariam de tarefas repetitivas, deixando espaço e tempo para os humanos pensarem criativamente, mais profundamente e para deixarem sua imaginação fluir.

Isso só poderia se concretizar se diferentes sistemas quebrassem a barreira do idioma e se integrassem em uma rede mais ampla. Essa ideia de "networking" é o que faz a Internet que usamos hoje. É essencialmente a necessidade de padrões comuns para diferentes sistemas se comunicarem.

Criando uma rede de trocas de pacotes distribuídos

Até esse ponto (final da década de 1960), quando se queria executar tarefas em computadores, os dados eram enviados através da linha telefônica usando um método chamado "circuit switching" (em português, troca por circuitos).

Esse método funcionou muito bem para chamadas telefônicas, mas foi muito ineficiente para computadores e para a Internet.

Usando esse método, você só poderia enviar dados como um pacote completo, ou seja, dados enviados pela rede e apenas para um computador por vez. Era comum que as informações se perdessem e tivessem que recomeçar todo o procedimento desde o início. Era demorado, ineficaz e caro.

Depois, na época da Guerra Fria, esse processo também era perigoso. Um ataque ao sistema telefônico destruiria todo o sistema de comunicação.

A resposta para esse problema foi a troca de pacotes.

Era um método simples e eficiente de transferência de dados. Em vez de enviar dados como um grande fluxo, ele os corta em pedaços.

Em seguida, ele divide os pacotes de informações em blocos e os encaminha o mais rápido possível e em tantas direções possíveis, cada um tomando suas próprias rotas diferentes na rede, até chegar ao seu destino.

Uma vez lá, eles são remontados. Isso é possível porque cada pacote tem informações sobre o remetente, o destino e um número. Isso permite que o receptor os coloque novamente juntos em sua forma original.

Esse método foi pesquisado por diferentes cientistas, mas foram as ideias de Paul Baran sobre redes distribuídas que foram posteriormente adotadas pela ARPANET.

Baran estava tentando descobrir um sistema de comunicação que pudesse sobreviver a um ataque nuclear. Essencialmente, ele queria descobrir um sistema de comunicação que pudesse lidar com falhas.

Ele chegou à conclusão de que as redes podem ser construídas em torno de dois tipos de estruturas: centralizadas e distribuídas.

Dessas estruturas, surgiram três tipos de redes: centralizadas, descentralizadas e distribuídas. Dessas três, apenas a última conseguiria sobreviver a um ataque.

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Fonte: RAND CORPORATION

Se uma parte desse tipo de rede fosse destruída, o resto ainda funcionaria e a tarefa seria simplesmente movida para outra parte.

Na época, eles não tinham em mente a expansão rápida da rede – não precisávamos disso. Foi só nos anos seguintes que essa expansão começou a tomar forma. As ideias de Baran estavam à frente de seu tempo. No entanto, elas lançaram as bases para como a Internet funciona agora.

A rede experimental de troca de pacotes foi um sucesso. Isso levou à criação inicial da arquitetura da ARPANET, que adotou esse método.

Como a ARPANET foi criada

O que começou como uma resposta a uma ameaça da Guerra Fria estava se transformando em algo diferente. O primeiro protótipo da Internet lentamente começou a tomar forma e a primeira rede de computadores, a ARPANET, foi construída.

O objetivo agora era o compartilhamento de recursos, fossem dados, descobertas ou aplicações. Isso permitiria que as pessoas, não importa onde estivessem, pudessem tirar proveito do poder de computação caro e que estava longe delas, como se estivesse bem à sua frente.

Até então, os cientistas não podiam usar os recursos disponíveis em computadores que estavam em outro local. Cada computador mainframe falava sua própria língua, então havia falta de comunicação e incompatibilidade entre os sistemas.

Para que os computadores fossem eficazes, porém, eles precisavam falar a mesma língua e estar conectados em uma rede.

Então, a solução para isso foi construir uma rede que estabelecia links de comunicação entre vários supercomputadores de mainframe de compartilhamento de recursos que estavam a quilômetros de distância.

Iniciou-se a construção de uma rede experimental nacional de troca de pacotes que interligava centros administrados por agências e universidades.

Em 29 de outubro de 1969, diferentes computadores fizeram sua primeira conexão e falaram, uma comunicação "nó a nó" de um computador para outro. Era um experimento que estava prestes a revolucionar a comunicação.

A primeira mensagem foi entregue pela UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles) para o SRI (Stanford Research Institute – Instituto de Pesquisas de Stanford).

A mensagem dizia apenas "LO".

O que era para ser "LOGIN" não foi viável no início, pois o sistema travou e teve que ser reinicializado, mas deu certo! O primeiro passo tinha sido dado e a barreira linguística tinha sido quebrada.

Até o final de 1969, uma conexão foi estabelecida entre quatro nós em toda a rede, que incluía a UCLA, o SRI, a UCSB (Universidade da Califórnia Santa Bárbara) e a Universidade de Utah.

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A rede ARPA - Dezembro de 1969, com 4 nós

A rede, porém, crescia constantemente ao longo dos anos e mais e mais universidades aderiram.

Em 1973, havia nós que faziam ligação com a Inglaterra e a Noruega. A ARPANET conseguiu conectar esses centros de supercomputação administrados por universidades em sua rede.

Uma das maiores conquistas da época foi o surgimento de uma nova cultura, uma cultura que girava em torno da resolução de problemas via compartilhamento e encontrar a melhor solução possível coletivamente via networking.

Durante esse tempo, cientistas e pesquisadores estavam questionando todos os aspectos da rede – aspectos técnicos, bem como o lado moral das coisas, também.

Os ambientes onde essas discussões ocorriam eram acolhedores para todos e livres de hierarquias. Todos eram livres para expressar sua opinião e colaborar para resolver os grandes problemas que surgiram.

Vemos esse tipo de cultura se transportando para a Internet de hoje. Por meio de fóruns, redes sociais e afins, as pessoas fazem perguntas para obter respostas ou se reúnem para lidar com problemas, sejam eles quais forem, que afetam a condição e a experiência humana.

Com o passar do tempo, surgiram redes de troca de pacotes mais independentes, que não estavam relacionadas à ARPANET (que existia em nível internacional e começou a se multiplicar na década de 1970). Foi um novo desafio.

Essas diferentes redes tinham seus próprios dialetos e seus próprios padrões de transferência de dados. Era impossível para elas se integrarem a essa rede maior, a Internet que conhecemos hoje.

Fazer com que essas diferentes redes falassem entre si – ou Internetworking, termo usado pelos cientistas para esse processo – provou ser um desafio.

A necessidade de padrões em comum

Agora, nossos dispositivos são projetados para que possam se conectar à essa ampla rede global automaticamente. Naquela época, contudo, esse processo era uma tarefa complexa.

Essa infraestrutura mundial, a rede de redes que chamamos de Internet, é baseada em certos protocolos acordados. Esses protocolos baseiam-se na maneira como as redes comunicam e trocam dados.

Desde os primórdios da ARPANET, ainda faltava uma linguagem comum para que computadores fora de sua própria rede pudessem se comunicar com computadores em sua própria rede, mesmo sendo uma rede de troca de pacotes segura e confiável.

Como essas primeiras redes poderiam se comunicar umas com as outras? Precisávamos que a rede se expandisse ainda mais para que a visão de uma "rede global" se tornasse realidade.

Para construir uma rede aberta de redes, era necessário um protocolo geral, ou seja, um conjunto de regras.

Essas regras tinham que ser rígidas o suficiente para uma transferência segura de dados, mas também deveriam poder acomodar todas as maneiras pelas quais os dados eram transferidos.

O TCP/IP aparece para salvar o dia

Vint Cerf e Bob Khan começaram a trabalhar no design do que hoje chamamos de Internet. Em 1978, foram criados o Transmission Control Protocol e o Internet Protocol (protocolo de controle de transmissão e protocolo da internet, respectivamente), também conhecidos como TCP/IP.

As regras para a Interconexão eram:

  • As redes independentes não tinham a obrigação de mudar
  • Havia um esforço para obter comunicação
  • Redes internas existiriam para além dos gateways que conectariam essas redes. Sua tarefa seria fazer a tradução entre as redes. Haveria um protocolo universal e acordado entre todos para isso.
  • Não haveria um controle central – nenhuma pessoa ou organização estaria no comando.

Como Cerf explicou certa vez:

A tarefa do TCP é simplesmente pegar um fluxo de mensagens produzido por um HOST e reproduzir o fluxo em um HOST receptor diferente sem que haja alterações nesse fluxo.

O protocolo da internet (IP) torna possível a localização das informações ao pesquisar entre as diversas máquinas disponíveis.

Como viajam os dados?

Como um pacote vai de um destino para outro, por exemplo, de um ponto de envio ao seu ponto de recebimento? Qual o papel do TCP/IP nisso e como ele torna a jornada possível?

Quando um usuário envia ou recebe informações, a primeira etapa é que o TCP na máquina do remetente quebre esses dados em pacotes e os distribua. Esses pacotes viajam de roteador para roteador pela Internet.

Durante esse tempo, o protocolo IP é responsável pelo endereçamento e encaminhamento desses pacotes. No final, o TCP remonta os pacotes ao seu estado original.

O que ocorreu depois com a Internet?

Durante da década de 1980, esse protocolo foi testado minuciosamente e adotado por muitas redes. A Internet continuou a crescer e a escalar a uma velocidade rápida.

A rede global interconectada de redes estava finalmente começando a acontecer. Ela ainda era usada principalmente por pesquisadores, cientistas e programadores para trocar mensagens e informações. O público em geral a desconhecia.

Isso, no entanto, estava prestes a mudar ao final da década de 1980, quando a Internet se transformou novamente.

Isso foi graças a Tim Berners Lee, que introduziu a Web – como conhecemos e usamos a Internet hoje.

A internet deixou de apenas enviar mensagens de um computador para outro e passou a criar uma maneira acessível e intuitiva para as pessoas navegarem no que era, a princípio, uma coleção de sites interligados. A Web foi construída em cima da Internet. A Internet é a sua espinha dorsal.

Espero que este artigo tenha dado algum contexto e uma visão sobre as origens dessa infinidade de informações que usamos hoje. Espero, também, que você tenha gostado de aprender sobre como tudo realmente começou e sobre o que foi necessário para a Internet se tornar a Internet que conhecemos e utilizamos ainda hoje.